quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Balanço de 2016

Em poucos dias viajo e não poderia terminar 2016 sem o tradicional balanço.



Desculpa, não resisti. Voltemos à programação normal! (rs)

Não foi um ano globalmente bonito de se ver, mas no meu pequeno mundinho leio mentalmente em letras garrafais a palavra “gratidão”. Sinto que colhi um pouco dos frutos dos aprendizados dos últimos anos. A sacudida que a vida me deu foi boa, e o resultado é que saí da eterna zona de conforto para realmente começar a construir algo na minha vida. E ao lado do Rodrigo, o que facilita e “felicita” as coisas.

No ano passado ainda estava processando informações, tateando no novo ambiente, colocando alguns tijolos. Agora, a fundação está totalmente concluída. Claro que enquanto a gente vive algumas coisas vão acontecendo, tem a pintura das paredes, a compra dos móveis, a decoração...É, estou na fase de analogias com casa.

Não posso dizer que foi um ano fácil porque houve muito empenho. Teve campanha e seus dias de loucura e pouco sono. Teve reforma infinita que me rendeu muitos fios brancos. Mas teve também laços reforçados, risadas, um apartamento lindo que não canso de admirar, momentos em que perdi a elegância e me diverti muito, sensação de dever cumprido no trabalho, equilíbrio mental (financeiro prefiro não comentar...rs).

Se em 2015 ainda estava em fase de adaptação, principalmente no trabalho, esse ano acho que consegui me “encaixar”. Claro que ainda existe diferença de ideias, de visão de vida, mas cada vez percebo a grande bobagem que é a gente se desentender com as pessoas só por causa da nossa opinião. Concorda comigo? Ótimo. Não concorda? Vamos mudar de assunto e vida que segue.

Então, 2016, queria dizer que te achei muito lindo mas não vou ficar com saudades porque acredito mesmo que um ano é sempre melhor do que o outro. E tenho muitas boas expectativas em relação a 2017. Até lá, se Deus quiser.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Imersão yoga



Nesse fim de semana participei da imersão em Yoga, que faz parte do meu curso de formação na Unipaz. Estou revigorada! Estava ansiosa mas ao mesmo tempo sem muitas expectativas sobre a experiência. Só que foi tudo muito maravilhoso.

A imersão foi na fazenda Morada do Beija Flor, que por si só merecia um capítulo à parte. Cada cantinho dali é tão cuidado que eu acho que ganhei uma nova paixão: plantas! Fiquei sonhando em como deixar meu apartamento um pouco mais verdinho, dentro dos limites. E de repente até aprender a cuidar um pouco da área comum do meu prédio. Enfim, empolgações...rs….

O bouganville da chácara estava enorme, cheio de flores. Mas a parte que mais amei foi o Santuário do Bambu, que me lembrou muito uma cena legal daquele filme “O Clã das Adagas Voadoras”. Sério, parecia que eu estava dentro de um filme. Daqui uns anos vou lembrar desse lugar e ficar em dúvida se realmente o conheci ou se sonhei. Acontece tanto comigo! Vai ver são memórias de vidas passadas..rs.

Mas voltando ao assunto que interessa, foi uma experiência muito rica. Aprendi sobre mantras (tema que me apaixonei depois de ler um livro ótimo), meditação, fizemos atividades em grupo, compartilhamos experiências, fiz amizade com o gatinho e corri da cachorrinha fofa e carente de lá (rs).

Eu vinha de um período meio anestesiado da vida, que foi a campanha e a reforma, e acho que foi ótimo voltar a me conectar comigo mesma. O melhor de tudo foi ter um fim de semana em que eu não era obrigada a olhar o celular! É muito libertador.


Bom, mas percebi que não vou conseguir descrever tudo que senti ali. Só sei que foi especial e reacendeu minha paixão pela yoga.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Mudanças boas




Se eu sumi esses últimos meses foi por bons motivos. E o principal deles é que estou de casa nova. Ou melhor, de apartamento novo. Depois de um ano inteiro envolvida com papéis e pó de gesso, o Rodrigo e eu nos mudamos para lá na metade do mês passado. O processo foi um pouco desgastante - e aqui faço um “agradecimento” especial à Vivo e Net - , mas o resultado foi maravilhoso. Está a nossa cara! E me sinto tão bem lá dentro que, confesso, está um pouco difícil abandonar o ninho.


Apesar do saldo extremamente positivo, esse semestre foi um pouco pesado. Feliz e pesado. Viajei muito a trabalho, minha casa ficou de pernas para o ar, foi uma loucura conciliar tudo com a reforma, mas realmente foi um período bom profissionalmente. Gosto da agitação da campanha, da quantidade de pessoas que conhecemos em tão pouco tempo, das notícias acontecendo a todo momento, das informações de bastidores e, tenho de dizer, do chefe divertido que tenho e as pessoas nem imaginam.

E, no meio dessa agitação, é claro também que eu ansiava por um pouco de calmaria. Só agora estou conseguindo me reequilibrar. Principalmente retomar a minha rotina de yoga e exercícios físicos, as minhas leituras paralelas (nisso puxei minha vó, estou conseguindo a proeza de ler três de uma vez), a alimentação saudável.

Amanhã foi fazer imersão em yoga dentro do meu curso de formação na Unipaz. Estou super entusiasmada com a experiência. Serão dois dias de mantras e meditação e, sério, não consigo pensar em nada mais delicioso! Esse semestre faltei a todas (!!!) as aulas e por um momento quase desisti do curso, mas o Rodrigo (esse lindo) me deu todo o apoio para continuar. E, graças a isso, amanhã estarei lá!

Very good! 

x

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Um pouco mais de yin

Atendendo a inúmeros, insistentes e desesperados da minha amiga Maria Cristina, vou escrever um pouco sobre o que aprendi na última aula sobre yin e yang. Mas para começar fiz uma breve pesquisa e descobri que escrevi errado anteriormente. A saber: é yin e yang (rs).

O yin, com o qual me identifiquei mais, representa a escuridão, o princípio passivo, feminino e noturno. Já o yang é a luz, princípio ativo, masculino, quente e claro. Penso que sou yin porque não sou aquela pessoa de estilo mais agressivo, de liderança, de ação, mas um pouco  mais reflexiva, introvertida e, achei bem importante, muito friorenta.

Na última aula na Unipaz o professor fez um exercício interessante. Quem se identificava como yin ia para um lado da sala e quem era yang ia para outro. Os que estavam em dúvida ficavam no meio e, pelo pouco que conhecemos dos nossos colegas, a gente tinha de tentar adivinhar de que lado esses que estavam em dúvida deveriam ficar. No meu caso ninguém discordou que eu estava muito bem adaptada no yin, até pela minha postura física. Eu segurava um caderno contra o peito, indicando minha timidez e minha natureza mais “fechada”.

Mas pensando bem sobre minha amiga Maria Cristina eu realmente não consigo definir em qual lado ela está. Mas penso que pende mais para o yang pela personalidade forte (e nesse caso é elogio, não é sinônimo de gente chata..rs), pela determinação, postura firme diante da vida e pelo pragmatismo. Apesar de ser uma mulher de humanas (e, como tal, cheia de crises existenciais), é a pessoa menos indecisa que eu conheço na vida. Plis, Maria, não diga que não é verdade. Se você passasse um dia como Erika saberia o que é ser uma pessoa indecisa!...rs.

Depois da última aula confesso que comecei a me interessar um pouco por astrologia também. Daí, depois de saber que sou gêmeos com ascendente em capricórnio, decidi descobrir qual era minha lua. Má ideia. Pelas minhas contas sou escorpião, mas me recuso a ter qualquer característica desse signo malvado (rs). Falando sério, eu não me identifiquei com absolutamente nenhuma característica ali descrita. Sou totalmente gêmeos e pronto.

Fim do interesse pela astrologia.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Ying



Depois que descobri a ampla literatura sobre yoga minha vida mudou. Minhas horas vagas praticamente estão sendo todas dedicadas a este tipo de leitura. Aprofundar na yoga é uma delícia por vários motivos. A yoga envolve história, literatura, saúde, espiritualidade, religiosidade, filosofia e exercícios físicos. Tudo que eu mais amo nesta vida. Não é à toa que eu esteja um tanto quanto viciada.

No último fim de semana tivemos aula na Unipaz e foi muito rica em aprendizado. Pena que, por conta do trabalho, perdi o sábado inteiro. Mas na sexta o professor falou um pouco sobre o que devemos levar em consideração ao elaborarmos uma aula. E descreveu um pouco os tipos de alunos que podemos encontrar pela frente.

Ele se baseou mais naquele esquema de ying e yang e descobri que sou totalmente ying. Ou seja, tenho uma personalidade mais passiva, calma, introvertida. Para mim os exercícios de yoga ideiais devem ser mais fortes e dinâmicos. Talvez por isso tenha gostado tanto da aula de iyengar. E pelo mesmo motivo me apaixonei pelas aulas de luta, porque elas me ajudam a canalizar um pouco da raiva que não externalizo..

É estranho como eu seja de natureza tão passiva mas, ao mesmo tempo, consiga dominá-la a ponto de ter uma vida tão ativa. Teve horas que eu pensei que minha vida profissional, especialmente, era uma agressão muito forte à minha natureza. Pois pense numa mulher de fala mansa, tímida e recolhida vivendo no meio de tantos tubarões. Chega a ser engraçado. Mas agora eu acho que é justamente o que eu precisava na minha vida! Continuo aprendendo.


segunda-feira, 16 de maio de 2016

Transição para o vegetarianismo




Estou em processo de transição para me tornar vegetariana, finalmente. Depois de muito ler, conhecer teorias, ouvir mais opiniões contrárias que favoráveis (a mais preocupante foi a da minha nutricionista), comprar livros e revistas, estou conseguindo colocar o meu desejo em prática. E para ser bem sincera não é tão complicado como achei que seria.

Um dia, depois de muito adiar, decidi que meu almoço não teria carne. E, como já tinha conseguido vencer esse desafio, fiz o mesmo com o jantar. No dia seguinte pensei “bom, se consegui fazer isso ontem, devo conseguir hoje também”. E assim estou começando. É a minha primeira semana, mas estou achando o processo bem divertido.

Como sou muito preocupada com minha saúde, estou quase a louca dos hortifrutis. Minhas refeições estão super variadas e passei a incluir alimentos que raramente comia, como grão-de-bico, chia, quinoa e feijão. A parte complicada é que também preparo as refeições do namorado, que não abre mão de carne de jeito nenhum. Então é trabalho dobrado. Mas por enquanto minha vida está tranquila e isso não chega a ser um problema.

A parte boa mesmo foi ter incluído mais frutas na alimentação. Gosto de quase todas! E amo o processo de passar no supermercado, escolhar, cheirar, ver a textura, chegar em casa e lavar tudo, separar em saquinhos, colocar na geladeira. Enquanto não estou na correria, acho isso fantástico. Quando a vida real bater de novo à minha porta (lembremos que estamos em ano de campanha), acho que não será bem assim.

Quanto a me tornar vegana não sei se conseguirei fazer isso nessa vida, mesmo conhecendo todas as implicações éticas. Mas sempre fui uma viciada em leite, queijos, e não consigo mesmo pensar em uma vida sem isso. Então por enquanto estou curtindo o primeiro passo. Estou confiante que vai dar certo. Até encontrei um guia muito legal para me ajudar, nesse site http://www.svb.org.br/

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Sem apego aos resultados


Estou estudando um pouco mais a filosofia indiana e confesso que tive um estranhamento tipicamente ocidental. De repente tudo me pareceu muito niilista, sem propósito, pessimista e negador da vida. Mas, segundo o livro que estou estudando, quem tem essa percepção é porque entendeu tudo errado!

A busca do Eu Verdadeiro que os indianos falam é algo muito complexo, difícil mesmo para nós ocidentais compreendermos. A impressão que tenho é que a filosofia exige uma entrega total, um abandono do mundo e do corpo, e não consigo entender porque alguém faria isso. Ainda tenho muito estudo e muita prática pela frente.

Mas ontem, em meio às minhas angústias, encontrei algo muito alentador. A filosofia também ensina que temos de agir no mundo ao invés de viver passivamente nele (como julguei estar entendendo). A diferença é que nós ocidentais somos muito apegados aos resultados, temos ânsia de vencer. E a filosofia indiana ensina a agir, entregar-se ao máximo, mas sem se apegar aos resultados.

Acho que com esse pensamento muita ansiedade vai embora, né?

Não se apegar é mesmo uma coisa boa. Viver intensamente seu amor, seu trabalho, suas amizades, mas também não se apegar à tristeza se nada disso der certo.

Me parece mesmo um bom modo de viver a vida.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Crônicas de Varanasi



Esta semana tive a imensa alegria de participar do lançamento do livro Crônicas de Varanasi, o primeiro da minha amiga mais do que querida Lian. Sinto como se fosse um sonho meu sendo realizado, porque há anos acompanho a evolução da sua escrita e esperava muito que um livro pudesse coroar o seu talento.


Vou explicar isso em outros termos. Quando dividimos o mesmo quarto em um pensionato no Rio de Janeiro, ela me apresentou aos livros do Rubem Alves e fiquei muito apaixonada por ele, que foi um grande companheiro naquele período solitário da minha vida. Com o tempo fui descobrindo também a escrita da Lian e as aproximações com o estilo dele.


Mas eis que de repente, não mais que de repente, em suas experimentações ela foi crescendo, crescendo, e para mim já superou o mestre! Aliás, mais do que isso. A Lian descobriu um estilo todo seu, somando a ele sensibilidade, amor pela humanidade, delicadeza e beleza.


Realmente esperei muito que ela conseguisse publicar a sua primeira obra. E que belo começo! Crônicas de Varanasi traz relatos diários dela na cidade indiana, quando passou três meses por lá por conta de seu doutorado. Eu, que cada dia me interesso mais pela cultura da Índia, só fiquei com vontade de pegar as malas e partir já!


Para quem se interessar em conhecer, vou deixar aqui o material que enviamos para a imprensa.


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Crônicas de Varanasi


É inverno na Índia, quando Lian Tai desembarca em Varanasi, com o objetivo de entrevistar viajantes para sua pesquisa de doutorado. Porém é sua a viagem que acompanharemos neste livro, através de seus relatos diários, ao longo de três meses, que incluem uma viagem de dez dias ao Nepal. Varanasi é uma das cidades vivas mais antigas do mundo e é considerada a cidade mais sagrada entre os hinduístas. Estar ali é fazer uma viagem no tempo, caminhar
por becos estreitos, repletos de animais, presenciar as diversas cerimônias religiosas que se realizam diariamente ao longo do Ganges e entrar em contato com um povo interessantíssimo.


Crônicas de Varanasi é composto pelos textos que a autora escreveu diariamente, de forma fluida, ao longo de sua estadia na cidade, no ano de 2015. Lian mostra seu olhar e compartilha suas caminhadas pelos labirintos desse importante centro de peregrinação religiosa, os rituais no rio sagrado, as cremações ao ar livre, os encontros e desencontros e seu processo de auto-conhecimento, que se desenrola dia após dia, aos nossos olhos. Através de suas crônicas, somos transportados para a cidade de Shiva, entre pessoas e bichos que se misturam em meio a um tempo perdido em outro século. Lá, acompanhamos o poder de transformação que um povo e uma cidade têm para quem verdadeiramente se dispõe a penetrá-los.


Trechos do livro

“Fiquei mais um tempo ao seu lado, assistindo à preparação do crematório vip. Mas fazia um solzinho. Na cidade, os seres agitavam-se por aí. No mundo não-vip, todos os seres são iguais em sua miséria. Este é o lugar onde bichos e homens se equivalem, em sua selvageria e delicadeza. Quando faz frio, há sempre um fogo que reúne todos: homens, vacas, cães e cabras. E como hoje fazia sol, estavam todos espalhados, apreciando o pouquinho de calor que nos era ofertado. As vacas são sagradas, mas apanham para sair do caminho. Os cachorros levam chutes, mas recebem carícias. As cabras vestem roupas, para sofrerem menos com o frio. E os homens enrolam-se em panos. E é essa a delicadeza sutil dessa gente: um modo de empurrar uns aos outros, de gritar uns com os outros, de proteger uns aos outros. Um modo de equivalência entre todos os seres, dentro de nossa miséria.”


“Fora tão suave, o Nepal. A Índia e os indianos me incomodam mais. Me intrigam mais. E ao mesmo tempo... Sim, eu encontrei suavidade mesmo em Varanasi. E a suavidade, quando no caos, é ainda mais doce.”


“E, sobretudo, fiquei admirando as tantas pipas no céu. As crianças que as perseguiam e os tantos homens feitos, que as empinavam com a seriedade de missões de vida ou morte. E pensei que talvez eles tivessem razão. Talvez não houvesse no mundo nada mais importante do que empinar pipas. Deixar-se levar pelo vento, mas resistir. Resistir sempre. Sem perder a ternura.”


“É uma casa de música. E é uma casa de músicos há gerações. E eu sabia que não faria o menor sentido agora aprender algum instrumento. Mas eu queria estar ali. E eu queria estar perto daquele homem. E, mesmo que tudo aquilo parecesse absurdo, eu fui procurá-lo porque ele foi a pessoa que, aqui, conduziu-me para o mais próximo possível do que eu chamaria de deus.


Pois bem. Eu fui procurar deus na casa de um músico.


É ridículo, eu sei.


Mas ele tinha algo para mim: eu poderia ter aulas de meditação com vocalização. Levou-me para a sala de cima, frente à imagem de Saraswati, entoou mantras e cânticos religiosos de diferentes religiões e me mostrou:


- Está vendo? Pode ser Shiva ou Alá. É tudo uma coisa só. É ohm, a vibração do universo.


Eu nunca quis um guru. E nunca gostei que me apontassem caminhos ou sentidos ou verdades.
Mas eu quero vibrar com o universo.”


Sobre a autora


Lian Tai é atriz, escritora e atualmente termina seu doutorado em Comunicação Social na Universidade Federal Fluminense. Filha de chineses, nascida em Goiânia e vivendo no Rio De Janeiro, a autora divide seu tempo entre os estudos, a carreira de atriz, as palavras e, claro, as viagens. Apaixonada por culturas e paisagens diferentes, busca o auto-conhecimento pelo encontro com o outro. Também mantém o blog “Bolhinhas da Lian” e é colunista do site de
viagens “De mala e mochila”.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Em cada lago a lua toda brilha

Textão que escrevi sobre meus primeiros aprendizados na Unipaz ;)
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Há muitos caminhos passíveis de levar o ser humano a um estado mais elevado de consciência. Pode ser um chamado divino, um momento inspirador, a experiência de morte ou doença, ou até mesmo a firme convicção de que a vida pode ser bem mais do que se apresenta aos nossos olhos. Dentro de tantas possibilidades é produtivo voltar a atenção por agora ao que poeticamente chamamos de “a noite escura da alma”, traduzida como um período de crise precedido por uma transformação.

Embora seja um conceito bastante ligado aos místicos e religiosos, não é de todo desconhecido de grande parte da humanidade. Temos o primeiro contato com ele ainda com poucos anos de idade, quando os contos de fadas habitam o nosso imaginário infantil. Por meio deles conhecemos histórias de heróis e heroínas que só alcançaram a felicidade depois de enfrentarem desafios grandiosos. Para que João e Maria fossem dignos do amor do pai tiveram antes de vivenciar a dor do abandono e matar a bruxa malvada no caldeirão incandescente.

É uma metáfora bela e valiosa de que a literatura se vale para explicar o período que antecede mudanças significativas no modo de viver e encarar a vida. Do ponto de vista de um buscador dos novos tempos, pode-se dizer que da visão obscurecida, causadora de sofrimento, passa-se à possiblidade de ter a um olhar mais aprofundado em relação à realidade que nos cerca.  Neste jogo de luz e sombra, é a verdade que se revela.

Atravessar a noite escura da alma é, sem dúvida, um convite para um novo agir no mundo. Há uma concepção bastante popular de que velhos hábitos não produzem novas realidades. Por isso a prudência nos diz que, se forem mantidos, mais adiante o sofrimento que geramos irá se voltar novamente contra nós. Se há a convicção de que o simples ato de viver encerra em si a possibilidade de sofrer, aprende-se por outro lado que é possível minimizar as dores produzidas por nossas atitudes inconscientes.

Dentro da tradição do budismo, que a Monja Coen nos apresentou durante sua passagem pela Unipaz de Goiânia no em fevereiro de 2016, há a visão de que os apegos são responsáveis por uma considerável parcela dos sofrimentos humanos. O ciúme por exemplo, um sentimento infelizmente tão rotineiro na vida dos casais, nasce da sensação de que o outro é um objeto que nos pertence e que não podemos perdê-lo.

Em sua fala Monja Coen abordou uma das soluções para este problema, que é a necessidade de cultivarmos o desapego e buscarmos a suficiência durante a nossa permanência nesta encarnação. Trata-se de não querer nem mais e nem menos para as nossas vidas, mas o suficiente para que haja plenitude sem acúmulo desnecessário.

É preciso focar no exercício diário de perguntar com sinceridade ao próprio coração: isso me satisfaz? É o suficiente? Traz contentamento? Eis algumas das perguntas que normalmente não nos fazemos. E assim seguimos acumulando bens, mágoas e carências. O poeta Fernando Pessoa sintetiza a beleza da suficiência e da conexão com o Ser em de seus poemas mais conhecidos, que vale a pena reproduzir aqui.


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.



Metáfora da noite escura

O que a metáfora da noite escura traz é que, ao findar a escuridão, os raios de sol irão invadir nossos olhos e revelar o amanhecer. Em outras palavras, quem vivencia esse processo percebe que, ao lançar luz sobre os aspectos mais sombrios do seu Ser, pode enfim mudar as suas ações.

Durante esse rito talvez seja útil compreender a divisão que Eva Pierrakos nos traz em todas as suas obras - e destacam-se aqui “O Caminho da Autotransformação” e “Não temas o Mal” -, trazidas ao mundo por meio de um espírito que se autointitulou como “Guia”. Segundo o Guia, o ser humano é composto de três partes distintas. Convém prestar bastante atenção a essa divisão pois a tendência natural do ser humano é acreditar que apenas um dos seus lados compõe toda a realidade do seu Ser.

O Eu Inferior seria a nossa sombra, ou seja, tudo aquilo que nos esforçamos para manter no porão do nosso inconsciente. São nossos aspectos mais mesquinhos, egoístas, fúteis e agressivos. O Ego é a forma com que queremos que os outros nos vejam. A profissional competente, a filha atenciosa, a mãe cuidadosa. E, finalmente, o Eu Superior, que carrega em si nossas melhores qualidades e nosso desejo de nos abrir a experiências amorosas - colocadas aqui em seu sentido mais amplo.

É conhecida a história de um velho monge que, certa vez, descreveu aos aprendizes seus conflitos internos.

“Dentro de mim existem dois cães, um é cruel e mau, o outro é bom e dócil. Os dois estão sempre a lutar um contra o outro.” Quando lhe perguntaram qual iria vencer essa luta, ele respondeu: “Aquele que eu alimentar”.

Em seu livro “A Sabedoria da Transformação - Reflexões e experiências”, Monja Coen relata uma história similar, usando os opostos “céu” e “inferno”.

“Um samurai (espadachim do Japão antigo) estava repousando debaixo de uma árvore quando passou um monge budista. Ele não acreditava em nenhuma tradição espiritual. Era um homem duro e seco. Quantas vezes desembainhara sua espada? Quantos corpos havia mutilado? Quantos por sua lâmina haviam morrido? Já perdera a conta. Ao ver o monge, chamou-o e o interpelou: “Essa história de céu e inferno que vocês, budistas, conta é pura mentira. Onde fica esse céu, essa terra pura? E onde está o inferno?
O monge o escutou atentamente e, em seguida, respondeu. “Você é um samurai muito burro e lento. Sua espada não serve para coisa alguma”. Furioso, o samurai se levantou e começou a desembainhar a espada: “Como ousa falar assim comigo?”. O monge disse, sorrindo: “Isso é o inferno”. O samurai parou e, em vez de tirar a espada da bainha, colocou-a mais para dentro. “Isso é o céu”, disse o monge. E continuou sua caminhada.


Encontrando a voz interior

Desde o momento em que nascemos somos cobrados por nosso papel no mundo. Os pais criam expectativas em relação ao nosso futuro e à nossa personalidade. A escola, a sociedade, a família nos impõem regras de convívio, ditam o certo e o errado e, na ânsia de produzir um cidadão que atenda a tantas demandas, acabam por abafar a nossa voz interior. A tal ponto que, mesmo decididos a ouví-la, não somos capazes de fazê-lo.

O que queremos realmente em nossas vidas? Que caminho tomar? O que faz sentido para nós? Qual nosssa verdadeira missão na Terra? Sem conseguir discernir nossos anseios, acabamos copiando trajetórias que outros traçaram.

Ouvindo apenas aos apelos de terceiros somos presas fáceis de condicionamentos  que se perpetuam. Agimos no mundo de forma praticamente automática, sem refletir - ou mesmo sentir - o significado do que estamos vivendo. A nossa tentativa de nos encaixarmos em moldes pré-estabelecidos é o retrato mais fiel do quanto nos esquecemos de ouvir a nossa voz interior.

É dentro desse processo que a maioria das pessoas acaba adquirindo a doença da normose, que pode ter efeitos ainda mais devastadores do que a neurose e a psicose. No livro “Normose - A patologia da normalidade”, os autores Pierre Weil, Jean-Yves Leloup e Roberto Crema nos trazem algumas definições do termo. Resumirei algumas delas nos tópicos abaixo.

  • “A normose pode ser considerada como o conjunto de conceitos, valores, estereótipos, hábitos de pensar ou de agir aprovados por um consenso ou pela maioria das pessoas de uma determinada sociedade que levam a sofrimentos, doenças e mortes. Em outras palavras: que são patogênicas ou letais, executadas sem que seus autores e atores tenham consciência da natureza patológica”. (página 18)

  • “A característica comum a todas as formas de normoses é seu caráter automático e inconsciente. Podemos falar do espírito de rebanho. A maior parte dos seres humanos, talvez por preguiça e comodidade, segue o exemplo da maioria. Pertencer à minoria é tornar-se vulnerável, expor-se à crítica”.

  • “A normose significa estar estagnado, estar retido, seja numa imagem, seja num sintoma. É o momento de dar um passo a mais.”

  • “Toda normose é uma forma de alienação”

A comparação da normose com a alienação é importante quando pensamos, por exemplo, na questão ambiental. Recentemente assistimos a uma polêmica envolvendo o ator Rodrigo Hilbert, que assina o programa Tempero de Famílina no Canal GNT. Ao tentar abordar o tema da procedência dos alimentos, ele abateu um carneiro em frente às câmeras, o que causou o choque de muitos telespectadores que ameaçaram boicote ao programa.

Como explicar que tantas pessoas que consomem carne diariamente, fazendo uso de alimentos que constam nas prateleiras do supermercado, se choquem com o fato de um animal ser abatido para servir de alimento? Quantas dessas pessoas que levantaram suas vozes são, efetivamente, veganas ou vegetarianas?

É uma questão interessante que deve ser analisada. Alienadas do processo, sem visualizar a cadeia produtiva - ou seja, os atos de plantar, colher, abater, embalar, transportar -, acabamos não percebendo como somos intoxicados com produtos maléficos que, além de desequilibrar o Planeta, atacam seriamente a nossa saúde.

Alienados da realidade da matança dos animais, aceitamos de bom grado consumir carnes de animais que não apenas deram involuntariamente suas vidas mas que, durante seu curto período na Terra, foram submetidos a condições degradantes de sobrevivência. Não seria o momento de avançarmos em nossos princípios éticos e estabelecermos um novo paradigma no consumo dos alimentos?

Mas não é só na alimentação que estamos de olhos vendados. A alienação permeia quase toda a nossa realidade. Karl Marx já nos falava sobre isso, usando exatamente este termo, ao tratar da questão do trabalho. São tantos os momentos que estamos apartados da realidade, inconscientes, que não percebemos como isso afeta os nossos relacionamentos, o Planeta, o bem-estar social. Disso também tratam com muita profundidade os autores no livro Normose.

  • “Os automatismos se dissolvem mediante a tomada de consciência”.

  • “Quando aprendemos a escutar a voz interior, da verdadeira sabedoria, tornamo-nos livres”.


O exemplo de São Francisco de Assis

Um dos santos mais conhecidos do catolicismo, São Francisco de Assis nos traz um retrato enriquecedor de como a recusa à normose é capaz de mudar paradigmas e produzir riquezas espirituais que não perecem com o tempo.

Para entender melhor como isso ocorreu, deixo aqui a indicação do lindíssimo filme “Irmão Sol, Irmã Lua”, que conta de forma romantizada a história do santo. A narrativa é de todos conhecida: um rapaz rico que se despe de toda a sua riqueza material para ir viver com os pobres e pregar o Evangelho. Aos olhos da sociedade da época, São Francisco de Assis não passava de louco, que abraçava os leprosos e vivia com os famintos que se fosse um dos seus.

No obra “Terapeutas do Deserto”, o teólogo Leonardo Boff nos fala sobre o rótulo de louco que São Francisco de Assis adquiriu e, de bom grado, aceitou.

“Francisco reúne os frades e lhes pergunta qual o caminho a seguir. Eles insistem em que Francisco siga as regras já existentes de Santo Agostinho, São Bento, São Basílio. Trazem inclusive um cardeal, para convencê-lo. Ele se levanta e diz: “Meus irmãos, meus irmãos. Não me falem de Santo Agostinho, não me falem de São Bento, não me falem de nenhum santo fundador de regra alguma porque Deus me chamou para seguir o caminho da simplicidade, porque Deus quis que houvesse um novo louco nesse mundo.”

Um louco é de fato alguém que perdeu a conexão com a realidade? Ou alguém que adquiriu uma percepção mais aprofundada desta? É uma pergunta que devemos nos fazer ao refletirmos sobre a normose. Considerado louco em sua época, São Francisco é hoje um dos santos mais conhecidos do catolicismo e tem o respeito até mesmo de outras religiões, que enxergam nele a manifestação do Divino.

Caminhos para ouvir a voz interior

Voltando ainda ao enigma da nossa voz interior, como, então, acessar o que há de mais verdadeiro dentro de nós? Os caminhos, como já foi dito, são muitos. Mas há uma visão unânime de que não é possível ouvir a voz interior em meio à turbulência da mente. Parar, respirar, se centrar. Em suas palestras de abertura do semestre da Unipaz Goiás, a Monja Coen e a filósofa Dulce Magalhães por repetidas vezes tocaram nesse ponto.

Mas apenas pensar sobre isso não é o suficiente. O esforço intelectual jamais conseguirá suplantar a vivência. É necessário experimentar. Foi esse o convite que ambas fizeram durante suas passagens por Goiânia. A Monja Coen, de tradição espiritualista, nos ensinou a sentar em posição zazen, respirar profundamente e silenciar a nossa mente por alguns instantes para, no jarro vazio, derramar novas lições. Dulce Magalhães também reforçou a importância da meditação, mas nos trouxe técnicas para energiarmos o corpo e nos conectarmos com nosso Eu Verdadeiro.

Como escolher dentre tantas opções é uma questão que merece ser levantada. A complexidade da natureza humana exige diferentes formas de abordagem. Sobre isso nos falou a facilitadora Hélyda Di Oliveira ao explicar o trabalho holístico desenvolvido pela Unipaz. Há pessoas que se identificam com a ciência, com as questões intelectuais, as artes ou as tradições espirituais. É tateando que vamos descobrir o que nos serve.

Uma experiência desafiadora que a Unipaz nos traz são as danças circulares. Por meio delas conectamos nossa energia a de outras pessoas, num sentido de integração que é finalidade maior da nossa presença do mundo. Sair da ilusão de que somos seres apartados é uma meta sonhada durante nossa passagem pela Unipaz.


Experiência pessoal

Durante a fala de apresentação dos colegas que frequentam o curso de Formação em Yoga notei quão diversas podem ser as trajetórias que nos levaram até a Unipaz. Alguns já trilharam uma boa parte do caminho rumo à autotransformação, outros estão apenas no início do processo. O que nos une a todos é o anseio de crescer espiritualmente, mesmo que para isso seja preciso sair da zona de conforto.

Nesta conclusão prefiro deixar o meu relato pessoal sobre como está sendo a experiência na Unipaz. Como Hélyda abordou em sua aula, algumas pessoas são mais mentais, sentimentais ou emotivas que as outras. Me identifico muito com o lado mental e, na maior parte da minha existência, procurei fazer minha leitura de mundo através da intelectualidade.

Mas, por mais que pensasse sobre o sentido de certo e errado, por mais que julgasse perceber as mudanças que o mundo precisava do ponto de vista da lógica, sentia que minha alma não era tocada. Foi na terapia que percebi como bloqueava meus sentimentos para evitar o sofrimento. O alerta de que algo estava errado estava na minha angústia crescente, que só consegui enxergar claramente durante o ano que me dediquei à terapia.

Foram muitas as fases desse período em que perscrutei meu interior. Notei uma agressividade latente, que não era exteriorizada, uma necessidade de ser reconhecida pela minha competência, os buracos que não foram preenchidos durante a infância. Na Unipaz enxergo a oportunidade de avançar mais no sentido de acessar os meus sentimentos, desenvolver a compaixão e me integrar a outras pessoas. É um desafio difícil pela minha dificuldade de me expressar mas, por outro lado, sei que se me abrir aos poucos vou alcançar esse objetivo. É nesse sentido que vai o meu esforço.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

Quero-te para ti mesmo

“Não te quero
Só para mim
E nem poderia
Quero-te
Para ti mesmo
E para tua
Prórpia vida
Quanto mais
Fores o que
quiseres
Mais serás o
Que eu queria…”

Para mim este poema do Luiz Poeta é o resumo mais perfeito do amor verdadeiro. Ele tem muito a ver com um dos preceitos éticos que estou estudando na Unipaz, que á e não-violência.

Pausa para um breve comentário: como não amar um curso cuja base são os princípios éticos? Muito amor.

Agora voltando ao que interessa. Não digo que seja fácil amar de forma livre e espontânea. Mas acho que enxergar isso como um ideal a ser alcançado com certeza produz mudanças muito necessárias na forma de nos relacionarmos com as pessoas.

Sinto que, após muitos tropeços, meu relacionamento amoroso caminha para esse sentido. Com o Rodrigo sinto que expresso o meu lado mais bonito, aquele que eu gostaria de também poder dedicar a outras pessoas mas que ainda não me sinto devidamente preparada.

Eu realmente o aceito exatamente como ele é, não exijo mais atenção do que ele pode me dar, nem um romantismo que nele inexiste (felizmente), nem mesmo que melhore o seu mau humor genético (bom, sendo sincera, talvez seria bom ele melhorar isso aí...rs). Para mim ele é perfeito dentro da sua própria imperfeição.

Estava lendo exatamente sobre isso no livro Yoga do Coração, que é de leitura obrigatória no curso. Veja se tem como discordar do que a autora diz:

  • “A yoga considera a exigência um ato de violência. É evidente que as exigências causam grande dificuldade aos dois lados envolvidos”.
  • “Toda vez que você exige que outra pessoa se amolde à sua concepção de como deve ser o amor, você faz mal a si mesmo e à outra pessoa. Se você estiver praticando de fato a não-violência, você jamais vai querer que a pessoa que você ama seja responsável pela sua felicidade”
  • “O amor verdadeiro deixa o ser amado ser o que ele é - não o que você acha que deve ser. A tragédia do amor romântico está no fato de que, na maior parte das vezes, o amor só existe quando ‘você é do jeito que eu quero’”.
  • “Se eu exijo que você me ame, isso significa que não estou me amando o suficiente e que, portanto, eu quero que você forneça o que me falta”
Já pensou que maravilha a vida seria se todos amassem dessa forma? Que leveza teríamos nas nossas relações?

Yoga, sua linda!