Eu
mudo muito. Já passei da fase semi-hippie da faculdade à mulher ambiciosa da
política sem nem conseguir me dar conta da transição brusca. Como diria o
poeta, de repente, não mais que de repente, as leituras mudam, os interesses
também, e a gente se torna outra pessoa.
Minha
estante de livros é a prova inconteste. Tem a fase Jorge Amado (durou todo o
início da adolescência). Literatura estrangeira. Francês. Rubem Alves. Os
livros de arte. De cinema. A coleção de marketing político e comunicação
pública. Jornalismo literário. E mais recentemente yoga e autoconhecimento.
Vocês
conseguem ouvir uma frase impactante e passar incólume por ela? Eu nunca
consegui. Sempre achei que devia dar crédito a uma frase bem construída. Talvez
por isso quase tenha enlouquecido na fase Oscar Wilde. Uma mente imatura nunca
deve ler esse tipo de coisa.
Foi
tão surpreendente – juro! – quando, na terapia, descobri que pegava emprestadas
as verdades alheias sem pensar se elas se encaixavam mesmo na minha realidade.
Tive de atualizar muitas “verdades” até, como Da Vinci, extrair a escultura do
mármore bruto (um exagero poético, perdão...rs).
Atualizando,
revendo, refletindo, meditando, percebi quanta coisa inútil fui agregando à
vida na tentativa de dar uma satisfação para a “sociedade”. Nessas frases
aleatórias eu ia construindo alguém que achava que era o que o mundo queria.
Que
cansativo tudo isso. Quando recapitulo estas passagens da minha vida lembro
daquela piadinha muito boa do cara que diz à vendedora: “não compro coisas que
não quero para agradar pessoas que não gosto”. E não é justamente isso que a
gente faz a maior parte do tempo? Faz sacrifícios imensos para provar que somos
muito melhores do que esperam de nós?
Ainda
assim não arrependo desses períodos confusos da vida em que atendia muito à
cobrança alheia e pouco ao chamado do coração. Nem acho que devo me martirizar
com nada. Para planejar evoluir como pessoa tive que passar por todas essas
fases. Experimentando cheguei à conclusão de que a maioria das coisas pelas
quais lutava não era para mim.
Ainda
tenho uma vida inteira para construir mas já me preocupo em não gastar meu
tempo com o que é inútil. Nada de sacrificar presenças, abraços, afagos e
diálogos para encher meu bolso com dinheiro que não vou saber gastar. Tenho
cada vez buscado mais significado no meu trabalho e empregado o que ganho com o
que realmente importa.
Cada
passo que dou nesse caminho fico mais distante do que as pessoas costumam
chamar de “vencer na vida”. Nunca vou ser rica, mas quanta riqueza tenho
acumulado desde que decidi rever os meus conceitos. Eu queria que todo mundo vivenciasse
isso. Mas cada um tem o seu caminho. É como no livro que li do Chico Xavier:
“Ampara
teu filho que é também nosso irmão na Eternidade, mas não te proponhas a escraviza-lo
a teu modo de ser”.