segunda-feira, 16 de maio de 2016

Transição para o vegetarianismo




Estou em processo de transição para me tornar vegetariana, finalmente. Depois de muito ler, conhecer teorias, ouvir mais opiniões contrárias que favoráveis (a mais preocupante foi a da minha nutricionista), comprar livros e revistas, estou conseguindo colocar o meu desejo em prática. E para ser bem sincera não é tão complicado como achei que seria.

Um dia, depois de muito adiar, decidi que meu almoço não teria carne. E, como já tinha conseguido vencer esse desafio, fiz o mesmo com o jantar. No dia seguinte pensei “bom, se consegui fazer isso ontem, devo conseguir hoje também”. E assim estou começando. É a minha primeira semana, mas estou achando o processo bem divertido.

Como sou muito preocupada com minha saúde, estou quase a louca dos hortifrutis. Minhas refeições estão super variadas e passei a incluir alimentos que raramente comia, como grão-de-bico, chia, quinoa e feijão. A parte complicada é que também preparo as refeições do namorado, que não abre mão de carne de jeito nenhum. Então é trabalho dobrado. Mas por enquanto minha vida está tranquila e isso não chega a ser um problema.

A parte boa mesmo foi ter incluído mais frutas na alimentação. Gosto de quase todas! E amo o processo de passar no supermercado, escolhar, cheirar, ver a textura, chegar em casa e lavar tudo, separar em saquinhos, colocar na geladeira. Enquanto não estou na correria, acho isso fantástico. Quando a vida real bater de novo à minha porta (lembremos que estamos em ano de campanha), acho que não será bem assim.

Quanto a me tornar vegana não sei se conseguirei fazer isso nessa vida, mesmo conhecendo todas as implicações éticas. Mas sempre fui uma viciada em leite, queijos, e não consigo mesmo pensar em uma vida sem isso. Então por enquanto estou curtindo o primeiro passo. Estou confiante que vai dar certo. Até encontrei um guia muito legal para me ajudar, nesse site http://www.svb.org.br/

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Sem apego aos resultados


Estou estudando um pouco mais a filosofia indiana e confesso que tive um estranhamento tipicamente ocidental. De repente tudo me pareceu muito niilista, sem propósito, pessimista e negador da vida. Mas, segundo o livro que estou estudando, quem tem essa percepção é porque entendeu tudo errado!

A busca do Eu Verdadeiro que os indianos falam é algo muito complexo, difícil mesmo para nós ocidentais compreendermos. A impressão que tenho é que a filosofia exige uma entrega total, um abandono do mundo e do corpo, e não consigo entender porque alguém faria isso. Ainda tenho muito estudo e muita prática pela frente.

Mas ontem, em meio às minhas angústias, encontrei algo muito alentador. A filosofia também ensina que temos de agir no mundo ao invés de viver passivamente nele (como julguei estar entendendo). A diferença é que nós ocidentais somos muito apegados aos resultados, temos ânsia de vencer. E a filosofia indiana ensina a agir, entregar-se ao máximo, mas sem se apegar aos resultados.

Acho que com esse pensamento muita ansiedade vai embora, né?

Não se apegar é mesmo uma coisa boa. Viver intensamente seu amor, seu trabalho, suas amizades, mas também não se apegar à tristeza se nada disso der certo.

Me parece mesmo um bom modo de viver a vida.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

Crônicas de Varanasi



Esta semana tive a imensa alegria de participar do lançamento do livro Crônicas de Varanasi, o primeiro da minha amiga mais do que querida Lian. Sinto como se fosse um sonho meu sendo realizado, porque há anos acompanho a evolução da sua escrita e esperava muito que um livro pudesse coroar o seu talento.


Vou explicar isso em outros termos. Quando dividimos o mesmo quarto em um pensionato no Rio de Janeiro, ela me apresentou aos livros do Rubem Alves e fiquei muito apaixonada por ele, que foi um grande companheiro naquele período solitário da minha vida. Com o tempo fui descobrindo também a escrita da Lian e as aproximações com o estilo dele.


Mas eis que de repente, não mais que de repente, em suas experimentações ela foi crescendo, crescendo, e para mim já superou o mestre! Aliás, mais do que isso. A Lian descobriu um estilo todo seu, somando a ele sensibilidade, amor pela humanidade, delicadeza e beleza.


Realmente esperei muito que ela conseguisse publicar a sua primeira obra. E que belo começo! Crônicas de Varanasi traz relatos diários dela na cidade indiana, quando passou três meses por lá por conta de seu doutorado. Eu, que cada dia me interesso mais pela cultura da Índia, só fiquei com vontade de pegar as malas e partir já!


Para quem se interessar em conhecer, vou deixar aqui o material que enviamos para a imprensa.


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Crônicas de Varanasi


É inverno na Índia, quando Lian Tai desembarca em Varanasi, com o objetivo de entrevistar viajantes para sua pesquisa de doutorado. Porém é sua a viagem que acompanharemos neste livro, através de seus relatos diários, ao longo de três meses, que incluem uma viagem de dez dias ao Nepal. Varanasi é uma das cidades vivas mais antigas do mundo e é considerada a cidade mais sagrada entre os hinduístas. Estar ali é fazer uma viagem no tempo, caminhar
por becos estreitos, repletos de animais, presenciar as diversas cerimônias religiosas que se realizam diariamente ao longo do Ganges e entrar em contato com um povo interessantíssimo.


Crônicas de Varanasi é composto pelos textos que a autora escreveu diariamente, de forma fluida, ao longo de sua estadia na cidade, no ano de 2015. Lian mostra seu olhar e compartilha suas caminhadas pelos labirintos desse importante centro de peregrinação religiosa, os rituais no rio sagrado, as cremações ao ar livre, os encontros e desencontros e seu processo de auto-conhecimento, que se desenrola dia após dia, aos nossos olhos. Através de suas crônicas, somos transportados para a cidade de Shiva, entre pessoas e bichos que se misturam em meio a um tempo perdido em outro século. Lá, acompanhamos o poder de transformação que um povo e uma cidade têm para quem verdadeiramente se dispõe a penetrá-los.


Trechos do livro

“Fiquei mais um tempo ao seu lado, assistindo à preparação do crematório vip. Mas fazia um solzinho. Na cidade, os seres agitavam-se por aí. No mundo não-vip, todos os seres são iguais em sua miséria. Este é o lugar onde bichos e homens se equivalem, em sua selvageria e delicadeza. Quando faz frio, há sempre um fogo que reúne todos: homens, vacas, cães e cabras. E como hoje fazia sol, estavam todos espalhados, apreciando o pouquinho de calor que nos era ofertado. As vacas são sagradas, mas apanham para sair do caminho. Os cachorros levam chutes, mas recebem carícias. As cabras vestem roupas, para sofrerem menos com o frio. E os homens enrolam-se em panos. E é essa a delicadeza sutil dessa gente: um modo de empurrar uns aos outros, de gritar uns com os outros, de proteger uns aos outros. Um modo de equivalência entre todos os seres, dentro de nossa miséria.”


“Fora tão suave, o Nepal. A Índia e os indianos me incomodam mais. Me intrigam mais. E ao mesmo tempo... Sim, eu encontrei suavidade mesmo em Varanasi. E a suavidade, quando no caos, é ainda mais doce.”


“E, sobretudo, fiquei admirando as tantas pipas no céu. As crianças que as perseguiam e os tantos homens feitos, que as empinavam com a seriedade de missões de vida ou morte. E pensei que talvez eles tivessem razão. Talvez não houvesse no mundo nada mais importante do que empinar pipas. Deixar-se levar pelo vento, mas resistir. Resistir sempre. Sem perder a ternura.”


“É uma casa de música. E é uma casa de músicos há gerações. E eu sabia que não faria o menor sentido agora aprender algum instrumento. Mas eu queria estar ali. E eu queria estar perto daquele homem. E, mesmo que tudo aquilo parecesse absurdo, eu fui procurá-lo porque ele foi a pessoa que, aqui, conduziu-me para o mais próximo possível do que eu chamaria de deus.


Pois bem. Eu fui procurar deus na casa de um músico.


É ridículo, eu sei.


Mas ele tinha algo para mim: eu poderia ter aulas de meditação com vocalização. Levou-me para a sala de cima, frente à imagem de Saraswati, entoou mantras e cânticos religiosos de diferentes religiões e me mostrou:


- Está vendo? Pode ser Shiva ou Alá. É tudo uma coisa só. É ohm, a vibração do universo.


Eu nunca quis um guru. E nunca gostei que me apontassem caminhos ou sentidos ou verdades.
Mas eu quero vibrar com o universo.”


Sobre a autora


Lian Tai é atriz, escritora e atualmente termina seu doutorado em Comunicação Social na Universidade Federal Fluminense. Filha de chineses, nascida em Goiânia e vivendo no Rio De Janeiro, a autora divide seu tempo entre os estudos, a carreira de atriz, as palavras e, claro, as viagens. Apaixonada por culturas e paisagens diferentes, busca o auto-conhecimento pelo encontro com o outro. Também mantém o blog “Bolhinhas da Lian” e é colunista do site de
viagens “De mala e mochila”.