segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Um post diferente sobre minha revolta com o machismo



Leio na internet que Goiânia é a quinta capital mais violenta para as mulheres. Não tem como ler uma notícia chocante como essa sem pensar nas inúmeras vezes em que somos agredidas, mesmo que não fisicamente, pelo simples fato de sermos mulheres. É um tema que me sensibiliza cada dia mais pois percebo que, ao contrário do que eu supunha, não estamos conseguindo avançar.


O que eu são homens que se acham donos das mulheres - e, em nome do direito à propriedade, acreditam que podem até matar -, meninas ainda muito jovens defendendo o discurso de que “mulher precisa se dar ao respeito”, pessoas do nosso convívio mais íntimo corroborando a ideia arcaica de que feminismo é coisa de mulher que não gosta de homem.


Não me lembro bem onde li um texto maravilhoso que diz que, ao contrário do que muitos pensam, feminismo não é similar ao machismo. Enquanto o machismo tenta a todo custo subtrair direitos femininos, tudo o que o feminismo quer é que as mulheres tenham oportunidades iguais. Eu não quero que as mulheres dominem o mundo e, por vingança, ensinem ao homem o que é viver numa sociedade matriarcal. Acredito muito na ideia de complementar, de yin e yang, de unir qualidades que, por força da cultura, cada um de nós ressalta mais.


Embora eu tenha uma vida que muitos podem achar careta, e amar loucamente o cor-de-rosa (rs), sempre pensei que para viver em um mundo melhor a gente precisava de liberdade para sermos o que realmente somos. Para mim esta tem de ser a principal bandeira do feminismo: dar à mulher a liberdade de ser exatamente o que ela quer, sabendo que em momento algum é o homem quem vai determinar isso. Se a vida no lar cuidando dos filhos é a mais significativa, sou a primeira a defender que seja assim. Se a mulher quer viver para o trabalho, não ter filhos, se vestir com roupas consideradas masculinas, depilar, não depilar, tosar o cabelo, deixar os fios batendo no chão, casar virgem, dar para cem em uma noite - problema é dela! É tão simples que me custa perceber que tantos encarem como sendo tão complicado.


Esses dias vi uma campanha na internet sobre o primeiro assédio e, por incrível que pareça, fiquei muito chocada com os relatos. Eu tinha uma vaga noção de que toda mulher passava por algo assim, mas como é tudo sempre tão velado a gente acaba perdendo um pouco a consciência da realidade. Mas a verdade é o que assédio, a agressão contra as mulheres é diário. Até para mim que já sou adulta, bem informada e emocionalmente forte, às vezes me pego sem reação diante de certas situações. Como quando, por exemplo, estou andando na rua e ouço cantadas baratas e saio totalmente desconcertada. Minha vontade é ir lá, discutir, brigar, até bater se for o caso, mas a coragem cadê? Não me sinto protegida em um mundo em que dizem que “se mexeu é porque você estava provocando”, “ué, que é que tem, toda mulher gosta de elogio”.


Eu vejo esse tipo de coisa acontecendo o tempo todo e a única dúvida que me corrói é: será que é tudo filho de chocadeira? Onde está a empatia, onde está o respeito, o amor ao próximo? Enfim, qualquer coisa que me faça ter um fio de esperança de que um dia isso vai mudar? Acho o cenário desesperançoso porque qualquer movimento no sentido de defender a mulher é sempre visto com chacota, classificado até de esquerdista (o que tem a ver, meu Deus!!!), seguido de piadas ainda mais absurdas de pessoas que não têm noção da gravidade desse problema. Para mim há uma conexão muito sutil entre o homem que justifica o ciúme como amor e o feminicídio. Em poucas palavras: ciúme (amigão do machismo) não é bonito e é a porta de entrada para a violência.


O problema do machismo e suas consequências se combate é pela raiz. Por isso cada vez mais tenho evitado ficar calada diante de tantos absurdos. Não sei se vou conseguir mudar algo, mas só de extravasar as minhas angústias já está valendo. É isso. Só queria desabafar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário