segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

Senso crítico ou julgamento excessivo?



Como toda jornalista padrão aprendi a desenvolver um senso crítico muito forte que, sem que eu percebesse, acabou descambando para um julgamento excessivo do comportamento alheio. E, quanto mais crítica, mais barreiras construía em relação às outras pessoas. Fazemos isso o tempo todo ao falarmos de música, política, classes sociais.

Esse fim de semana iniciei meu curso de Formação em Yoga na Unipaz e a primeira palestra foi com a Monja Coen - uma ótima contadora de histórias que um dia também já foi jornalista - e ela contou como certa vez, quando estava em um mosteiro, decidiu praticar o jejum. A escolha dela acabou desagradando porque os outros acreditavam que ela se julgava diferente e especial. Foi quando o abade a repreendeu questionando se ela sabia como tantas guerras no mundo se iniciaram. Ele disse: “por causa das barreiras que as pessoas impõem. Elas acham que seu modo de vida é melhor e quer que outros sigam o seu exemplo. Não se misturam, não compartilham”. Foi algo mais ou menos assim que lembro dela contar. Mas faz todo o sentido.

Essa arrogância que muitos jornalistas desenvolvem tão bem (e critico apenas essa tendência, porque ainda acho que jornalistas são os seres mais interessantes do Planeta) é inquietante. Ela nasce de um desprezo enorme pelo mundo e nos faz acreditar que em muitos aspectos somos superiores aos outros. Desconfio que só criticamos alguém publicamente para provarmos que somos melhores. Por isso nunca aceitei o argumento de “crítica construtiva”. Isso só existe se feito com extremo cuidado e, muito importante, sem exposição.

Só um exame muito profundo de nós mesmos nos faz enxergar essa verdade. Quando cheguei na terapia me achava a criatura mais meiga e humilde da Terra, até aprender a escutar a minha voz interior. Que dizia exatamente o contrário! Além de descobrir uma raiva latente - disso eu desconfiava vagamente -, eu percebi que meu senso crítico muitas vezes era uma tentativa de mostrar que eu era melhor que os outros. Nesse raciocínio o meu interlocutor, para valer alguma coisa aos meus olhos, deveria pensar exatamente como eu.

Pode reparar como isso é bastante nítido na internet. Se você vota no Aécio: coxinha. Se você vota na Dilma: manipulado. Se gosta de academia: fútil. Se vive para os livros: frustrado com a vida.

Melhorar como ser humano é todo um longo processo, que possivelmente nem vou concluir nesta encarnação (rs). Por isso confesso que, mesmo alertada pela terapia, ainda faço isso o tempo inteiro. Leio algo na internet e já saco logo o rótulo. Mas será que não existe uma forma melhor de contribuir para o mundo, sem deixar de questionar aquilo que julgamos errado mas, ao mesmo tempo, preservando o respeito ao próximo? É meu questionamento da vez.

Um comentário:

  1. Nossa, muito difícil não julgar.. Isso é quase automático... oremos pela nossa evolução! rs

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