segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Vencer na vida


Eu mudo muito. Já passei da fase semi-hippie da faculdade à mulher ambiciosa da política sem nem conseguir me dar conta da transição brusca. Como diria o poeta, de repente, não mais que de repente, as leituras mudam, os interesses também, e a gente se torna outra pessoa.  

Minha estante de livros é a prova inconteste. Tem a fase Jorge Amado (durou todo o início da adolescência). Literatura estrangeira. Francês. Rubem Alves. Os livros de arte. De cinema. A coleção de marketing político e comunicação pública. Jornalismo literário. E mais recentemente yoga e autoconhecimento.

Vocês conseguem ouvir uma frase impactante e passar incólume por ela? Eu nunca consegui. Sempre achei que devia dar crédito a uma frase bem construída. Talvez por isso quase tenha enlouquecido na fase Oscar Wilde. Uma mente imatura nunca deve ler esse tipo de coisa.

Foi tão surpreendente – juro! – quando, na terapia, descobri que pegava emprestadas as verdades alheias sem pensar se elas se encaixavam mesmo na minha realidade. Tive de atualizar muitas “verdades” até, como Da Vinci, extrair a escultura do mármore bruto (um exagero poético, perdão...rs).

Atualizando, revendo, refletindo, meditando, percebi quanta coisa inútil fui agregando à vida na tentativa de dar uma satisfação para a “sociedade”. Nessas frases aleatórias eu ia construindo alguém que achava que era o que o mundo queria.

Que cansativo tudo isso. Quando recapitulo estas passagens da minha vida lembro daquela piadinha muito boa do cara que diz à vendedora: “não compro coisas que não quero para agradar pessoas que não gosto”. E não é justamente isso que a gente faz a maior parte do tempo? Faz sacrifícios imensos para provar que somos muito melhores do que esperam de nós?

Ainda assim não arrependo desses períodos confusos da vida em que atendia muito à cobrança alheia e pouco ao chamado do coração. Nem acho que devo me martirizar com nada. Para planejar evoluir como pessoa tive que passar por todas essas fases. Experimentando cheguei à conclusão de que a maioria das coisas pelas quais lutava não era para mim.

Ainda tenho uma vida inteira para construir mas já me preocupo em não gastar meu tempo com o que é inútil. Nada de sacrificar presenças, abraços, afagos e diálogos para encher meu bolso com dinheiro que não vou saber gastar. Tenho cada vez buscado mais significado no meu trabalho e empregado o que ganho com o que realmente importa.
Cada passo que dou nesse caminho fico mais distante do que as pessoas costumam chamar de “vencer na vida”. Nunca vou ser rica, mas quanta riqueza tenho acumulado desde que decidi rever os meus conceitos. Eu queria que todo mundo vivenciasse isso. Mas cada um tem o seu caminho. É como no livro que li do Chico Xavier:

“Ampara teu filho que é também nosso irmão na Eternidade, mas não te proponhas a escraviza-lo a teu modo de ser”.



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