sexta-feira, 27 de março de 2015

Sem máscara no posto de gasolina



Eu descobri porque as pessoas me irritam tanto. De um jeito quase...assassino. Vamos à explicação.


A primeira vez que assisti o filme Tratamento de Choque me identifiquei muito com o personagem principal. Era um cara calmo, pacato, que não questionava e nem demonstrava raiva. Mas o terapeuta sabia que havia muita raiva escondida ali. E que tipos como ele eram os mais perigosos. Porque são os aparentemente calmos que um dia pegam uma metralhadora e atiram em todo mundo no supermercado.


Eu nunca quis pegar uma metralhadora e atirar em todo mundo no supermercado. Não, não mesmo. Eu preferiria fazer algo, vamos dizer assim, mais direcionado. Mas isso foi antes da terapia.


Agora eu sei bem como extravasar a raiva sem precisar bater boca com ninguém ou pegar uma faca de cozinha. E as aulas de lutas são ótimas para isso, porque um saco de boxe rapidamente vira um alvo para mim. E nos dias que estou com raiva perco umas mil calorias. Quer dizer, ainda por cima minha raiva me deixa em forma.


Mas o desafio tem sido descobrir de onde brota tanta raiva. É difícil diagonisticar, cada situação é um caso, mas a última sessão para mim foi reveladora no sentido de entender porque algumas pessoas sem importância na minha vida podem me alterar tanto.


É que, sempre que preciso resolver algo (como “disciplinar” alguém que não entende o sentido de coletividade), tenho de tirar a minha máscara de boazinha. Me custa muito, muito mesmo (e eu nunca tinha percebido) tirar essa máscara. Eu nunca quero me indispor com ninguém, nunca quero ser punida. E ter de dar “bronca” em alguém é o tipo de coisa que me enlouquece mesmo.


Sinto que isso vai ficar cada vez mais para trás. E acho que a primeira manifestação disso eu tive ontem.


Estava eu toda feliz, alegre e saltitante indo para minha casa quando pela trilhonésima vez um cara do posto mexeu comigo. Há meses isso me irrita no fundo da alma. Tanto que é uma adrenalina passar por ali, meu coração até acelera de raiva. Já mudei de rota, já tinha planejado muitas vinganças na cabeça, altos diálogos com o cara (dizer para ele “cara, você acha mesmo que vai pegar mulher assim”, “cara, se manca, você está no seu ambiente de trabalho”).


Mas ontem eu estava passando e aconteceu de novo. E eu, embuída de todo o meu espírito de Emily Thorne, fiz a curvinha em direção ao posto de gasolina (e já me diverti imaginando o susto dele) e procurei o gerente. Calmamente (juro que estava calma) expus a situação e pedi que orientasse os funcionários porque era uma coisa desagradável e, afinal de contas, meu pai e o meu namorado são clientes lá.


Achei que, mesmo com a situação constrangedora, fui elegante e objetiva na minha conversa. Quer dizer, resolvi um assunto sem me alterar demais, deixando a máscara de boazinha lá na gavetinha.


Eu sei que foi só um primeiro passo e que as coisas não vão caminhar sempre assim tão lindamente. Mas quer saber?

Estou com orgulho de mim.

Um comentário: